ATA DA TRIGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 03.10.1991.
Aos três dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e noventa e um
reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de
Porto Alegre, em sua Trigésima Quarta Sessão Solene da Terceira Sessão
Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a homenagear a República
da Alemanha pela sua reunificação, conforme o Requerimento nº 04/91, aprovado,
do Vereador Vicente Dutra (Processo nº 32/91). Às dezessete horas e vinte e
cinco minutos, constadada a existência de "quorum", o Senhor
Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a
conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a
Mesa: Vereador Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre; Vereador Leão de Medeiros, 1º Secretário; Senhores Luiz Carlos Lisboa,
representando o Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; Duiskon Dick, Reitor
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Klaus Wilms, Presidente da Câmara
do Comércio e Indústria; Ronaldo Spiering, representando o Deputado Estadual
Germano Bonow; Dietrich Schellert, Cônsul da Alemanha; e o Irmão Liberato,
representando a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Após, o
Senhor Presidente pronunciou-se acerca da solenidade e registrou as presenças,
no Plenário, dos Senhores Firmino Sá Cardoso, representando a Associação
Riograndense de Imprensa; Olavo Pinheiro, representando o Colégio Farroupilha e
a Associação Beneficente e Educacional de 1858; Carlos Hoffmeister Filho e
Adelmo Eli, representando a Federação dos Centros Culturais 25 de Julho; e Ari
Burger. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores
que falariam em nome da Casa. O Vereador Vicente Dutra, em nome das Bancadas do
PDS, PDT, PMDB, PL, PTB e PFL, autor da proposição, reportou-se à reunificação
da Alemanha, tecendo comentários sobre a história desse País, quando da Segunda
Guerra Mundial, e declarando que a Alemanha foi centro de uma peça trágica de
intrigas e de experiências autoritárias, em que seu povo foi massa de manobra.
Disse, ainda, que a reunificação exemplifica e simboliza a pertinácia com que
Alemanha é capaz de construir e reconstruir caminhos. O Vereador Antonio
Hohlfeldt, em nome da Bancada do PT, discorreu sobre a unificação da Alemanha
como um marco na história, ressaltando a importância desse acontecimento.
Relatou visita feita às duas Alemanhas, antes da reunificação, fazendo paralelo
entre as duas sociedades. Afirmou ser de grande importância essa atitude, desde
que garanta uma convivência efetiva entre os países europeus. A seguir, o
Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Dietrich Schellert, Cônsul da Alemanha,
que agradeceu à Casa pela solenidade em homenagem à passagem do primeiro ano de
reunificação de seu País, alertando para a importância desse fato. Após, o
Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar,
declarou encerrados os trabalhos às dezessete horas e cinqüenta e cinco
minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à
hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio
Hohlfeldt e Leão de Medeiros e secretariados pelos Vereadores Leão de Medeiros
e Vicente Dutra, Secretário "ad hoc". Do que eu, Leão de Medeiros, 1º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Damos início,
nesse momento, a 34ª Sessão Solene da 3ª Sessão Legislativa Ordinária da X
Legislatura, destinada a homenagear a República Federal da Alemanha, conforme
Requerimento do Ver. Vicente Dutra. Queremos, inicialmente, registrar também a
recepção, e passar as mãos do Sr. Cônsul o Cartão da Empresa Porto-Alegrense de
Turismo – Epatur, firmado pelo Sr. José Carlos Mello D'Ávila, seu Diretor
Presidente, que confirma a sua presença - deve estar atrasado, mas chegará
logo. E, também um telex do Sr. Deputado Valdir Fraga, que agradece ao convite
e também se associa ao evento. Meus Senhores, minhas Senhoras, Srs. Vereadores,
é importante que a Câmara de Vereadores que representa o conjunto de idéias, o
conjunto de posições, o conjunto de partidos, o conjunto, enfim, da sociedade
de Porto Alegre, marque, comemore, registre datas as mais diferentes possíveis,
no caso da reunificação independe das posições partidárias, ideológicas que o
fato em si possa representar e gera diferentes intervenções e interpretações.
Sem dúvida nenhuma, o reencontro de uma população, através da reunificação, é
uma data significativa, e a mim pessoalmente, como Presidente da Casa e
descendente de alemães, alegra-me o fato. O que vai acontecer daqui para a
frente evidentemente é tarefa que os historiadores vão analisar no futuro. Mas,
de qualquer maneira, o fato de garantir reencontrarmos a unidade de povos,
sobretudo de um povo, o povo alemão, é um fato marcante. O destino desse povo
está em aberto e será construído por esse povo e pelo contexto político
internacional, que vai modificando gradualmente, e sobretudo nesses últimos
anos sofreram modificações bastante profundas.
Portanto, acho importante, apesar de ser uma
Câmara de Vereadores de uma Cidade Capital de um Estado, onde a presença da
colônia alemã é significativa, que nós possamos refletir sobre isso e marcar
essa data. É o que queríamos dizer ao Sr. Cônsul da República Federal da
Alemanha e a todos os convidados, em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre.
Também registramos a presença, aqui, para nós
muito honrosa, do Pastor Godofredo Boll, representante do CONIC, o Companheiro
Jornalista Sr. Firmino Sá Cardoso, representando a ARI; o Sr. Olavo Pinheiro,
representando o Colégio Farroupilha e da Associação Beneficente e Educacional
de 1858, recentemente declarada de utilidade pública por essa Casa, Sr. Carlos
Hoffmeister Filho e outros convidados que nos honram com as suas presenças. Dr.
Adelmo Eli, que representa aqui a Federação dos Centros Culturais 25 de Julho e
outras entidades que se fazem presentes.
Tem a palavra o Ver. Vicente Dutra, proponente da
Sessão, que falará em nome das Bancadas do PDS, PDT, PMDB, PTB e PL.
O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, Senhores e Senhoras presentes a esta solenidade. O propósito que
nos reúne hoje, nesta Casa, mais uma vez, não tem por objetivo tão-somente
festejar a sonhada reunificação alemã,consagrada num 3 de outubro, e quase meio
século depois que a prepotência dos vencedores e a ameaça da tirania impôs a
divisão. Em verdade, quando propus esta homenagem, calorosamente recebida e
aprovada por meus pares, lembrei-me do milagre que representa, para o mundo
livre, já há dois anos, a transformação do velho muro que dividia Berlim em
liberdade e escombros de uma desigualdade mal disfarçada, de uma limitação
social e econômica que, queira Deus, a elas nunca mais sejam submetidos os
cidadãos comuns.
Na verdade, quando os conflitos da Segunda grande
Guerra chegaram ao seu termo, nós nem sequer sonhávamos que o pesadelo da
ausência de liberdade estava apenas ensaiando seus passos, marcados, mais
tarde, pelas incompreensões históricas de 1948 e de 1961. A partir daquele
momento, a Alemanha foi centro de uma peça trágica de intrigas e de
experiências autoritárias, dentro das quais seu povo, seu heróico povo, foi
massa de manobra, pagando o mais alto preço possível.
O confronto leste/oeste tornou aquele país um
laboratório de triste lembrança, onde famílias foram separadas por um tempo
interminável, num drama que se reproduzia em cada cidade, em cada bairro, em
cada lar.
Hoje, aqui na Câmara Municipal de Porto Alegre,
legitimados pela vontade de nosso povo, nós nos reportamos às angústias que
assinalaram as duas grandes Guerras - e das quais os alemães acabaram por constituir
a sociedade que mais sofreu - compreendendo que foi aqui que, certamente, os
imigrantes e seus descendentes puderam, por largo tempo, e em perfeita paz,
expor o seu verdadeiro caráter, costumeiramente sério na execução de seu
trabalho, alegre no seu lazer, perfeccionista na busca da concretização de seus
ideais.
Esta imigração foi para nós uma felicidade.
Nenhum outro povo integrou-se de forma tão definitiva ao nosso convívio social.
Às nossas artes, aos nossos meios de produção, e conseqüentemente, nenhum outro
povo contribuiu de forma tão decisiva e peremptória para o nosso
desenvolvimento.
Nosso país deve aos alemães este agradecimento
particular. Mas Porto Alegre o deve de modo especial. É ela a capital de um
Estado brasileiro em que reside cerca de 3 milhões de descendentes alemães.
Nem Porto Alegre, contudo, nem o mundo novo para
onde acorreram alemães - notadamente desde o século passado - podem encerrar a
trajetória de disciplina, de liberdade e de engrandecimento que a Nação que
hoje homenageamos tem percorrido. A própria reunificação exemplifica e
simboliza a pertinácia com que a Alemanha é capaz de construir e reconstruir
caminhos. Da sucata de meio século de ditadura renasce um ponto de luz e de
progresso que há de servir como baliza para a grandeza da Europa e do mundo no
século XXI.
Já se disse que este passado recente de sombras
não pode ser simplesmente anistiado. É preciso que seja lembrado, e que dele se
extraiam lições para a construção do futuro, por mais difícil que ele tenha se
apresentado ao povo alemão, e mais ainda agora, em que é necessário desfazer-se
de velhas estruturas e incontáveis obstáculos erguidos pela burocracia.
Queiram, senhoras e senhores, pelo exemplo que
têm dado os representantes alemães nesta ímpar demonstração de renovado
crescimento, uma palavra de agradecimento pelo que suas realizações podem
significar para o mundo. Mas antes dela, uma palavra de respeito, admiração e
conforto pela certeza que estaremos, indissoluvelmente, juntos na luta por uma
sociedade melhor. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Ver. Leão
de Medeiros que assuma a Presidência dos trabalhos para que, na representação
do PT, este Vereador possa dirigir-se também ao Plenário.
(O Sr.
Leão de Medeiros assume a Presidência dos trabalhos.)
O SR. PRESIDENTE (Leão de Medeiros): Com a palavra o
Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará em nome de sua Bancada, o PT.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Prezado companheiro,
Ver. Leão de Medeiros, Secretário da Casa, na Presidência dos trabalhos neste
momento, prezado Ver. Vicente Dutra proponente desta Sessão, companheiro
Jornalista Luiz Carlos Lisboa, na representação do Sr. Prefeito Municipal,
prezado Irmão Liberato na representação da PUC, cujo corpo docente eu me
orgulho de fazer parte, prezado Sr. Klaus Wilms, representante da Câmara do
Comércio e Indústria e que eu tenho o prazer de conhecer há muitos e muitos
anos, inclusive dentro do trabalho das empresas Zivi Hércules, muito
especialmente Sr. Cônsul Dietrich Schellert, representante da nossa Cidade, do
nosso Estado da República Federal da Alemanha; minhas senhoras e meus senhores.
Como dizia ainda há pouco, na abertura dos
trabalhos, sou descendente de alemães. Vejo aqui, neste Plenário, o companheiro
Adelmo Eli que integrou comigo, durante muitos anos, o Coral Misto 25 de Julho,
como o companheiro Olavo, que hoje assume a Presidência do Coral Misto 25 de
Julho e que também integrou o Coral 25 de Julho.
Chega o meu Líder de Bancada. Ver. Clovis
Ilgenfritz, que pelo próprio nome também identifica a sua ascendência
germânica, tendo sua origem naquela região do Alto Uruguai, Cidade de Ijuí.
Sem dúvida nenhuma, todos nós, de qualquer cor
partidária, de qualquer posicionamento ideológico, devemos festejar uma
reunificação.
No entanto, falando pela Bancada do Partido dos
Trabalhadores e definindo com clareza a nossa postura, a nossa posição de
crença no socialismo, nas possibilidades de caminhos dentro de uma filosofia
que não é uma filosofia exclusivamente marcada pelo capitalismo.
Nós entendemos que esta unificação nos traz
algumas indagações, ela é, sem dúvida nenhuma, uma marca de uma perspectiva de
história que não sabemos ainda muito bem o que ocorrerá. Da mesma forma que se
lastimou profundamente a divisão violenta de um País, como saldo e como herança
de uma guerra. Nos preocupa também aquilo que advirá, após um processo de
praticamente quase quatro décadas de uma separação, de uma unificação que não
busque certos respeitos mútuos de lado a lado, independentemente das nossas
maiores ou menores identificações com um ou outro desses lados.
Tive a oportunidade de viver diferentes
experiências na Alemanha, nas visitas que fiz, Sr. Cônsul. Lembro, o Adel
estava comigo nesta ocasião, em 1971 quando estivemos pela primeira vez na
Alemanha, em Berlim. Em Berlim a visita obrigatória ao muro, e ao longo da
nossa trajetória, antes e depois de sairmos de Berlim, a experiência de ao
longo de vários quilômetros, centenas, atravessarmos aquela estrada que, na
ocasião estava ladeada por muros, arame farpado, por guardas de lado a lado, e
talvez até porque era inverno na Alemanha, a imagem que nos ficava era muito
triste; não da propaganda que eventualmente se fizesse, que o lado de cá era
melhor que o lado de lá, porque também no lado de lá tinha igual
propaganda. Não foi isso que nos ficou,
que um lado fosse melhor que outro, o que nos ficou de tristeza, Sr. Cônsul,
foi ver um espaço fechado, um povo proibido a outro povo, foi ver que até ontem
as famílias podiam se visitar, e de um dia para outro estavam proibidas,
cortadas, interditadas, separadas. Nós vivemos a experiência em ano subseqüente
de retorno a Berlim, aí por motivos profissionais, vivendo uma bolsa do
Instituto Goethe, e possibilidades de visitas a Frankfurt e outras cidades, e
retornando a Berlim, que é uma cidade, efetivamente, fascinante para qualquer
pessoa que tem um mínimo de interesse pelas coisas do mundo; as contradições,
as próprias pessoas no dia-a-dia nos colocavam nas conversas, certamente os
senhores conhecem, já foram várias vezes à Alemanha e terão ido, agora, depois
da unificação. Os problemas, por exemplo, que muitos buscavam no lado de cá,
empregos do lado de lá, porque lá o salário era às vezes muito melhor. Mas, de
outro lado fugiam reivindicando sua própria vida, e muitos pereceram nestas
buscas, porque aqui bem ou mal se tinha possibilidade de expressão, das suas
idéias, muito mais facilmente que do lado de lá. Mas se dava um contraste, e eu
cito aqui um escritor famoso que, ao longo da década de 1970 questionou
duramente o modelo então vigente, com indagações fundamentais do porquê surgiam
movimentos da guerrilha urbana. O que havia por trás deste país cujo
desenvolvimento era tão fantástico, tão exemplar, tal qual outros, como o
Japão, mas por que isto ocorria de um lado e o que ocorria do outro lado? E
foram feitos livros, ensaios, romances, filmes e na verdade não tínhamos,
maniqueisticamente, uma resposta, uma divisão para dizer: aqui era o
absolutamente correto e lá era o absolutamente errado. Na verdade se buscavam
caminhos, caminhos que talvez certamente foram postos de fora para dentro, no
contexto que surgiu durante a II Guerra Mundial. Chegamos ao resultado, de uma
certa maneira feliz, não tenho nenhuma dúvida, na reunificação, mas ela traz
uma série de questões positivas, tenho comentado com amigos alemães. Inclusive,
também traz novos problemas. Hoje os problemas de emprego, transporte,
habitação, de vagas em universidades que são problemas que cresceram
profundamente na antiga República Federal da Alemanha, ou na Antiga Berlim
porque sofreu inchaços repentinos de busca e troca de espaços que até então não
existiam. E que terão que ser, sem dúvida nenhuma, resolvidos. E é uma difícil
tarefa de ser resolvida por um governo de uma Alemanha reunificada.
Por outro lado temos algumas questões
fundamentais. É inequívoco que houve padrões de vida diferentes de um ou outro
lado, padrões de vida diferentes que sofreram separações de um muro, que não
foi apenas físico, mas que certamente ao longo de 30 anos se construíram a
nível psicológico, ao nível das cabeças, das experiências de pessoas que
nasceram de um ou outro lado, e que agora vão começar a conviver, vão ter que
se adaptar, inclusive no respeito do convívio de idéias diferentes, que é a
marca da democracia. É a marca que vivemos aqui nesta Casa, no dia-a-dia. É a
marca que me fez respeitar, na diferença, a um companheiro como o Ver. Leão de
Medeiros, ao Ver. Vicente Dutra e vice-versa. Mas que é a marca que é também um
aprendizado, porque certamente o lado de lá não tem o monopólio do acerto, como
o lado de cá não tem o monopólio do acerto. E talvez desta possibilidade de
respeito, desta necessidade de diálogo, estaremos, talvez recuperando um espaço
que vai poder ir bem além do que foi a antiga Alemanha.
A história da Alemanha é uma história bem
interessante, me permito comentar como descendente desse povo. Uma história ora
de dominação, inclusive pela força de exércitos, ora de subjugação. Uma
história em que por vezes tentou impor-se e
outras ao contrário, foi dominada. E nesses movimentos de expansão e
diminuição de territórios, sob as várias designações que a política eventual
espalhou e marcou nesse território, acho que se emudeceu. E hoje se coloca, sem
dúvida nenhuma, para a Alemanha reunificada, talvez o maior desafio possível:
concretizar uma unificação sem concretizar aquele medo que paira sob certos
aspectos há muitos dos vizinhos europeus, em relação ao que foi a Alemanha
nazista, por exemplo, e a sua representação. No ano passado, estive na Suíça,
Sr, Cônsul, conversei longamente com vários companheiros de universidade,
professores, como nós, trocando opiniões. E as grandes expectativas eram essas:
que aqueles imensos avanços que a Alemanha dita federal, havia conquistado em
tecnologia, democracia e educação, na abertura de espaços fantásticos, nas
discussões de cultura, se pudessem ser ampliados para o outro lado, que agora
se unificava, e que também pudessem se ampliar a todos os países europeus, no
sentido de garantir uma convivência efetiva.
E por outro lado ouvi, também, que outras conquistas que o outro lado da
chamada República Democrática havia se desenvolvido, inequivocamente havia se
desenvolvido. Por exemplo, há uma sensibilidade mais acurada em relação à
dominação externa. Há uma consciência mais refinada em relação a não se
repetirem erros de dominação, e inclusive as decisões de manter quarteirões
inteiros destruídos pela Guerra significava: não esqueçam dessa violência que
foi a II Guerra e que de uma certa maneira nós próprios havíamos causado; não
esqueçam de novas violências que nós não deveremos cometer; e não apenas
modernizar um País inteiro. Estavam lá essas marcas como um alerta permanente
de não assumirmos essa violência, até porque essa violência voltada para fora acaba
se voltando contra nós mesmos, fossem quem sabe lá uma bela lição a ser
assumida por todos nós, especialmente pela República Federal reunificada.
Eu acho que ganha o mundo, Sr. Cônsul; Senhores
aqui presentes, com essa reunificação, mas sem dúvida nenhuma tenho certeza
ganharão muito os alemães ao se reencontrarem, ao descobrirem que seus irmãos,
agora, 30 anos depois certamente, terão diferenças, mas será nessas diferenças
que todos poderemos crescer. E é apostando nesse respeito das diferenças que na
conjugação dessas diferenças nós possamos ampliar as nossas capacidades, da
República Federal da Alemanha Unificada, da Europa como um todo e do mundo, por
que não? Porque isso se reflete em todos nós, é que eu quero aqui transmitir a
minha alegria e a alegria dos meus companheiros de Bancada por esta data, e a
expectativa de que esta Alemanha reunificada possa, mais do que nunca,
contribuir com a paz e o crescimento social do seu território, do continente
alemão, e em todo o mundo. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
(O Ver. Antonio Hohlfeldt reassume a Presidência dos trabalhos.)
O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Queremos
registrar a presença dos Vereadores Clovis Ilgenfritz, Gert Schinke, Dr. Ari
Burger, e passamos a palavra, com muita honra, ao Sr. Cônsul.
O SR. DIETRICH SCHELLERT: Ilmo Sr.
Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara, Sr. Luiz Carlos Lisboa, representando
o Sr. Prefeito Municipal, Exmo Sr. Ver. Vicente Dutra, Srs.
Vereadores, Senhores e Senhoras. (Lê.)
“É uma honra retornar a esta Câmara Municipal
para receber a homenagem dos representantes do povo de Porto Alegre, na data do
primeiro aniversário da reunificação formal da Alemanha
No coração de todos os alemães, também do lado
Oriental, durante mais de quatro décadas, continuou acesa a brasa do sentimento
de unidade, por mais que um regime totalitário procurasse abafá-la. E,
finalmente, no dia 9 de novembro de 1989, este sentimento explodiu com todo o
vigor. E a brasa se transformou em chama incontida, que os ventos da liberdade
espalharam por toda a então República Democrática Alemã.
A esta altura, torna-se oportuno fazer uma
avaliação da nova realidade alemã. Estamos perfeitamente conscientes dos
imensos problemas que temos pela frente. Se, por um lado, estes problemas eram
previstos, por outro lado, ninguém poderia supor a extensão dos mesmos. É
trágica a herança do regime comunista na Alemanha Oriental: o caos
administrativo, econômico, social e político. No que se refere à proteção
ambiental, por exemplo, a situação continua sendo catastrófica. Sob a liderança
do partido único, da imprensa censurada, os anseios da população não
encontraram nenhuma repercussão. Na verdade, uma ditadura não deve satisfações
à opinião pública.
É preciso tomar em consideração que o povo da
Alemanha Oriental viveu sob regimes totalitários durante 57 anos: primeiro, do
nacional-socialismo; e depois, do socialismo marxista. Tudo isto teve reflexos
na mentalidade do povo, que foi acostumado a esperar as providências do Estado
paternalista. E todos sabem que a mentalidade não pode ser mudada de um dia
para outro.
Com as conseqüências nefastas da economia
planificada, é muito grande a diferença dos índices de produtividade. Através
do saneamento econômico e financeiro, estamos procurando aumentar a eficiência
e fazer com que os produtos orientais adquiram a indispensável capacidade de
competir no mercado. Dentro de poucos anos, será diminuído o desnível e a
produção do leste alemão poderá se igualar à da parte ocidental.
O custo da unificação é extraordinariamente
elevado. Só em 1991, os investimentos do Poder Público nos cinco novos Estados
deverão se elevar a 150 bilhões de marcos. E isto, sem falar nas aplicações do
capital privado.
Apesar de tudo, temos todas as razões para sermos
otimistas, pois estamos no caminho certo. Das mais de dez mil empresas
estatais, o Instituto de Administração Fiduciária já privatizou cerca de quatro
mil. Além destas, também devem ser citadas as 22.300 casas comerciais da
Ho-Handels Organisation, Hotéis e Restaurantes estatais, que já têm novos proprietários.
Através de uma política de reorientação
profissional, dentro de dois anos deveremos diminuir ao mínimo o desemprego,
que continua num ritmo ascendente.
Sr. Presidente, Srs. Vereadores, mais importante
de tudo é que estamos vivendo novamente numa democracia, com a soberania do
povo e o pluralismo de idéias. Deixamos para trás a desconfiança, a delação, a
ineficiência, o atraso e a opressão. E estamos marchando decididamente rumo a
um regime de produtividade, de bem-estar, de respeito, de dignidade e de
garantia dos direitos inalienáveis do cidadão.” Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Senhoras e Senhores,
agradecendo a presença de todos, especialmente do Exmo Sr. Reitor da
Universidade Federal, da representação da Reitoria da Pontifícia Universidade
Católica, do representante do Sr. Prefeito Municipal; da representação da
Assembléia Legislativa, através do Deputado Germano Bonow, e do seu
representante Sr. Ronaldo Spiering, e, muito especialmente, ao Sr. Cônsul da
República Federal da Alemanha Dr. Dietrich Schellert, nós queremos dizer que é
importante para esta Casa a celebração, a lembrança dessas datas, como dizia na
abertura dos trabalhos, é o momento sempre de nós ligarmos a política
localizada municipal em relação à política internacional e, sobretudo, no caso
de Porto Alegre, onde, evidentemente, as preocupações com o que ocorre na
Europa, especialmente com a Alemanha e com a Itália, são preocupações presentes
numa parcela significativa da população. Nesse sentido portanto, Sr. Cônsul,
tenha certeza de que esta Casa está sempre aberta ao debate, à recepção desses
problemas e das representações consulares, diplomáticas, aqui sediadas. Nós
queremos agradecer a todos os senhores pela presença.
Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.
(Levanta-se a Sessão às 17h55min.)
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